sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Copa consome dinheiro público


Análise do jornalista Juca Kfouri, um dos convidados das Jornadas Bolivarianas

Aquilo que os pessimistas previram está mais uma vez demonstrado pela reportagem de Bárbara Macri e Bernardo Itri: a Copa do Mundo no Brasil, que foi anunciada como a da iniciativa privada pelo governo e pelo comitê que a organiza, é pornograficamente pública.

Orlando Silva disse o que disse e Ricardo Teixeira escreveu o que escreveu --e escreveu na página 2 desta Folha: "Tenho dito e repetido inúmeras vezes que defendo um modelo para a Copa do Mundo no Brasil com viés predominantemente privado".

Tudo bem que ambos tiveram que se demitir dos respectivos postos e nem foi por mentir, mas por acusações, e provas, ainda mais comprometedoras. Um virou suplente de vereador em São Paulo e o outro vive na Flórida.

O que a reportagem revela cabalmente, com 97% dos investimentos nos estádios via dinheiro público, além de 85,5% do total empregado para a realização do megaevento, seria um escândalo em qualquer país sério.
O dinheiro de todos financiará o lucro de poucos, como aconteceu na África do Sul, que ficou com uma dívida de US$ 4 bilhões, os mesmos US$ 4 bilhões que a Fifa anunciou de lucro. Mas lembremos: a Fifa não pede a ninguém que sedie seu evento.

Sim, o Brasil terá novos estádios, como na ditadura, ao menos quatro deles fadados a virar elefantes brancos, em Cuiabá, Brasília, Natal e Manaus, sem se dizer que praças de esportes nunca foram polos de progresso.

O pior é que já se anuncia a desistência de boa parte dos legados em infraestrutura e mobilidade urbana.
Mas não há de ser nada: sempre haverá quem transforme espírito crítico e cidadão em pessimismo ou em desprezível campanha publicitária.

Artigo publicado na Folha de São Paulo.

Um comentário:

funkyboogie disse...

Olá, pessoal!
Indico o excelente domumentário sobre a crise na Grécia, caso os colegas já não o conheçam.

"Debitocracia"

http://www.youtube.com/watch?v=nwlJDAufvnM